PORQUE AMO O BOTAFOGO

 


Como um garoto paulista, criada dentro de uma família de Corinthianos fanáticos, resolve torcer torcer pelo Botafogo de Futebol e Regatas, time de outro estado, principalmente numa época que não existia televisão e toda a Mídia era preenchida por notícias paulistas, falando de ídolos como Cabeção, Baltazar, Leônidas da Silva, Flávio, Pelé, etc?

É uma longa história. Mas vou começar do começo (como deve ser, não é?)

Bem. Desde os primeiros anos, eu gostei de praticar esportes. Criei habilidades em várias modalidades e confesso que me adaptei bem em quase todas.
No Futebol não foi diferente. Comecei como ponta direita, apesar de ser ambidestro. Jogava em campos gramados no Seminário da Fazenda Santana de Baixo, dos Padres Estigmatinos, na Via Washington Luis, próximo a Rio Claro, SP.
Minha família morava em Frutal, MG onde tinha uma Beneficiadora de Arroz, na Avenida Euvaldo Lodi. 
Era uma grande empresa que recebia a produção de arroz de toda a região daquela parte do Triângulo Mineiro. Conforme a época, recebia até açucar, milho e amendoin
m para armazenamento. E muitos desses produdos necessitavam serem desensacados e espalhados ao sol para secar. Para isto, foram construídos grandes terreiros de cimento com bordas um pouco mais altas nas laterais. 
Pois bem. Nas férias, eu costumava jogar minhas pelas usando estes terreiros como campo onde se jogava com lobeira ou mesmo bolas de meia.
Numa dessas ocasiões, durante a disputa, tentei recuperar uma "bola" que estava rente a lateral cimentada, o que ralou meus dedos do pé (a gente jogava descalço), ferindo-os até à carne.
Resultado: Quando voltei para o Colégio fui obrigado a jogar no gol.
O goleiro titular do nosso time, não era seminarista, mas um filho adulto do jardineiro e que trabalhava na cidade. Aconteceu que numa data festiva, como sempre acontecia, foi marcado uma partida contra o time juvenil do Guarani de Campinas, e ele não podia participar. Foi quando me promoveram a titular. A sorte esteve do meu lado e conseguimos manter um empate sem gols, o que foi muito comemorado, uma vez que eles eram mais velhos e fortes que nossos jogadores. Claro, que tivemos o reforço de um padre  na ponta direita, onde eu era o titular e um Clerigo na defesa.
Assim, mesmo depois de recuperado das lesões nos pés, fui mantido na meta onde  comecei uma carreira promissora, que me proporcionou chegar a Ribeirão Preto, no ano seguinte, recomendado para essa posição. 
Em Ribeirão Preto, nosso colégio tinha três turmas de estudantes por idade: Menores, médios e maiores. E para jogar futebol, havia tres campos gramados com medidas oficiais. 
Acontece que os clubes profissionais da cidade, Comercial e Botafogo de Ribeirão Preto, não tinham gramados decentes. (Tanto que Pelé, na época, durante uma entrevista pela Rádio disse que os gramados do interior de São Paulo eram como pastos)
Então, durante o Campeonato Paulista, os dois times da cidade alugavam nossos campos para treinar. 
Foi onde conheci vários jogadores destes times. O mais famoso era o goleiro Machado.um gigante de dois metros...
E foi por causa deste contrato que fomos convidados para fazer uma preliminar do grande jogo do Botafogo SP x Botafogo FR. 
E quando chegou o momento dos times entrarem em campo, foi um choque:

               
                                                                                                                                   
 
Não foi só o jeito deles entrarem em campo. Mas durante o jogo, naquele campo ruim e irregular, os caras não levantavam a bola. Era como se o gramado fosse nivelado. Só toque de primeira e em grande velocidade. Uma coisa totalmente diferente do futebol paulista, com muito balão e chutes de longe. Muita falta e jogo corpo a corpo. 
Ali não! Os caras tocavam de primeira e em velocidade chegavam ao gol. Quando o jogo acabou, eu me senti como magnetizado. Também, eram quase todos da Seleção Brasileira. Ja se conheciam e estavam bem entrosados. Então se tornou um fato inesquecível para um jovem de quinze anos. 
Daquele dia em diante, era uma luta conseguir acompanhar o futebol carioca pelo rádio. Às vezes, o som sumia ou ficava baixo, havia muita interferência na transmissão, mas valia a pena.
O interessante que eu conseguia acompanhar ao vivo partidas dos grandes times de São Paulo ao vivo, Palmeiras, do Valdemar Carabina e Djalma Santos. São Paulo de Poy, Deleu, De Sordi, Benê, Procópio e Riberto, acho que o Canhoteiro era um dos atacantes, não lembro o resto. O Corinthians tinha o Cabeção, Oreco, etc. 
Houve um jogo em que quase o Pelé foi expulso por falar para o bandeirinha tomar vergonha na cara. Eu estava na arquibancada e ouvi. Era uma voz grossa quase metálica, diferente de quando ele aparecida anos depois na tv.
Conto isso, porque não entendo até hoje porque nunca consegui torcer para nenhum time de São Paulo. Acho que muito por causa dos jornalistas esportivos que exageram demais as coisas que a gente vê ao vivo em campo. 
Voce assiste uma coisa e quando ouve comentários no rádio, é muito diferente!
Uma das vítimas dessa mídia, que eu mais percebi, foi o craque Roberto Rivelino, muito criticado no Corínthians, foi tri no México e um fenômeno no Fluminense. Ouvi também muita crítica de idiotas sobre  o Pelé, no começo da carreira dele. Havia muito preconceito racial no interior do estado de São Paulo.
 

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